Esse artigo é o segundo em uma série, por isso antes de ler confira se leu o primeiro.
Gostaria de esclarecer a diferença entre os conceitos de aprendizagem e memória. Aprendizagem diz respeito a um processo de aquisição de informação, enquanto que memória refere-se a persistência dessa aprendizagem, de modo a ser recuperada posteriormente.
Boa parte do processo de aprendizagem ocorre a nível inconsciente, para que uma informação possa se fixar e tornar-se um registro permanente em nosso cérebro, ela requer um esforço extra. A psicologia cognitiva indica que há três processos importantes nesta fase, são eles: repetição, elaboração e consolidação.
Vamos imaginar uma pessoa que, em toda a sua vida, até este momento só conhecia a existência de gatos da cor branca. E de repente ao sair para caminhar numa manhã de sábado, ela avista um gato preto miando na calçada. Essa informação do “gato preto” vai se associar com o registro já existente sobre gatos, adicionando um novo detalhe: a cor preta. O novo conhecimento pode durar por algum tempo se não for repetido e recordado, e então irá se dissipar. Mas agora, vamos supor que visão do gato preto estimule a curiosidade dessa pessoa fazendo-a buscar por novas informações a respeito, lendo sobre o assunto, pesquisando em livros ou na internet, conversando com outras pessoas… Essas atividades trarão à tona os conhecimentos já existentes no cérebro para um alto nível de ativação, tornando-os disponíveis para nossa memória de trabalho (memória operacional) e permitindo que novas informações se associem ao conjunto sobre gatos: gatos podem ter outras cores, tamanhos, listras, raças… Todas essas informações estão agora interligadas em uma rede de informações que englobam o conceito “gato”.
Nesse processo, observamos evidentemente a repetição no uso da informação, em conjunto com a elaboração, onde ocorreu a associação da nova informação com os registros já existentes. Isso fortalece a memória tornando-a duradoura.
Quanto mais repetir essa atividade de recuperar informação de nossas memórias e quanto mais associar nosso conhecimento prévio com novas informações, construindo novos ganchos e ligações, mais forte serão os registros e os mesmos se fixarão de forma permanente.
A elaboração pode ser simples ou complexa, mediante ao número de atividades cognitivas que estiverem envolvidas, isto é, quanto mais canais sensoriais participarem, como: tocar, escutar, manejar, ver, sentir, escrever, recitar, degustar… Maior será a quantidade de vínculos e ligações, que serão formados, a partir da nova informação com as informações pré-existentes em nosso conhecimento. E as informações aprendidas com níveis mais complexos de elaboração, possuem mais chances de se tornarem registros fortes e permanentes, uma vez que um maior número redes neurais estarão atuando no processo de aquisição da informação.
E por fim chegamos no processo de consolidação, onde ocorrem alterações biológicas nas ligações neurais. Sinapses são desfeitas, outras ativadas, dendritos morrem ou nascem, essa operação envolve produção de proteínas e substâncias responsáveis pelo fortalecimento de sinapses, que facilitam a passagem de impulsos nervosos. Ou seja, a estrutura física do cérebro é reconfigurada e este processo não ocorre instantaneamente, é necessário tempo.
“Não importa o quão grande seja o talento e esforço, algumas coisas levam tempo. Você não consegue produzir um bebê em um mês fazendo com que nove mulheres fiquem grávidas”. — Warren Buffett