Dividir para conquistar; Intercalar para dominar.

Esse artigo é o último de uma série que abordei os principais conceitos de aprendizagem, por isso recomendo que leia antes o primeiro e o segundo.

A prática espaçada é uma estratégia de estudo, que fundamenta-se na repetição pragmática das informações, de modo escalonado. Deixando um espaço de tempo considerável entre as sessões de estudos.

A recordação da aprendizagem à custa do esforço na prática espaçada, demanda que reconstruamos os conceitos, componentes e habilidades estudadas a partir de nossas memórias de longo prazo. Durante esse processo de recordação concentrada, as memórias tornam-se novamente maleáveis, isto é, podem agregar novos detalhes, contextos e perspectivas resultantes da nova sessão de estudo. E como vimos anteriormente, a consolidação de uma informação leva tempo para acontecer. O espaçamento entre as sessões de estudos, fomenta os processos biológicos para que a consolidação ocorra. Recuperar essas informações posteriormente, permite que a memória seja novamente reconsolidada, o que ajuda a reforçar seu significado e fortalecer suas conexões com nosso conhecimento prévio.

A prática intercalada é a estratégia de alternar entre os temas que estão sendo estudados, tirando nosso cérebro de uma zona de conforto e colocando-o em situações desafiadoras e em contextos diferentes, resultando num nível maior de apreciação e distinção dos temas estudados. O aumento da apreciação permite determinar qual solução utilizar para um problema, em detrimento de outra.

Psicólogos cognitivos descobriram uma relação inversa entre a prática de recuperar informações e a força dessa prática para entranhar a aprendizagem: quanto mais fácil consideramos recuperar um conhecimento ou uma habilidade, menos a nossa prática de recuperar informações beneficiará a retenção desse conteúdo. Por outo lado, quanto maior o esforço investido, mais a prática de recuperar informações vai afincar este conteúdo.

Considere o seguinte estudo realizado em meados dos anos 90 pelo time de beisebol da California, Polytechnic State University, que se submeteu a um experimento interessante para melhorar suas habilidades de rebater bolas.

Acertar uma rebatida na bola de beisebol é uma das habilidades mais difíceis. Leva menos de meio segundo para a bola atingir o home plate (base principal). Nessa fração de segundo o rebatedor deve executar uma complexa combinação de habilidades cognitivas, motoras e receptivas:

  1. Identificar o tipo de arremesso.
  2. Antever a trajetória da bola.
  3. Mirar e sincronizar o balanço do taco (swing) para que chegue no mesmo lugar e no momento que a bola.

Essa cadeia de percepções deve ser tão enraizada a ponto de se tornar automática, uma vez que o rebatedor deverá realizar todos essas operações cognitivas enquanto a bola ainda está na luva do arremessador.

Parte da equipe de rebatedores praticou de forma usual. Praticaram rebater 45 arremessos uniformemente divididos em 3 blocos. Cada bloco consistia em um tipo de arremesso rebatido 15 vezes. Por exemplo: O primeiro bloco será de 15 bolas rápidas, o segundo bloco de 15 bolas curvas e o terceiro bloco, 15 bolas lentas. É um tipo de prática intensiva. Para cada bloco de 15 arremessos, à medida que o rebatedor familiarizava com aquele bloco, ele se sentia recompensado com a chance de obter um desempenho melhor ao antecipar as bolas, sincronizar seus swings e acertar a rebatida. Pois ele já sabia qual o tipo de arremesso que se seguiria e a aprendizagem tornava-se fácil.

A outra parte da equipe recebeu uma tarefa mais difícil: os três tipos de arremesso foram intercalados aleatoriamente ao longo do conjunto de 45 arremessos. Para cada arremesso, o rebatedor não tinha a mínimo ideia de qual esperar, não haviam chances de antecipar, uma vez que os arremessos eram aleatórios. Esse grupo de atletas, não parecia evoluir na proficiência que seus companheiros do outro grupo demonstravam. A intercalação e o espaçamento dos diferentes arremessos, tornavam a aprendizagem lenta e árdua.

As sessões extras de treinamento seguiram-se 2 vezes por semana durante seis semanas. No final, quando o desempenho dos rebatedores foi avaliado, ambos os grupos claramente demonstraram benefícios do treino extra. Mas não foi do jeito que os jogadores esperavam. O grupo que havia praticado com arremessos aleatoriamente intercalados, demonstravam um desempenho significativamente melhor em relação ao grupo que havia praticado com um tipo de arremesso por vez. Essas informações são ainda mais significativas se levarmos em conta que todos esses jogadores eram rebatedores qualificados antes do experimento.

Rebatedor beisebol

A prática na prática

Qual é o tempo ideal de intervalo de uma sessão para outra? Algumas horas? Alguns dias? Depende: O intervalo deve ser o suficiente para que a prática não se torne uma repetição sem sentido. E no mínimo um tempo suficiente para que algum esquecimento tenha ocorrido.

Este intervalo não pode ser muito longo, a ponto de que a nossa sessão de estudo se torne uma tarefa de reaprender todo o material. E nem muito curto, onde toda informação ainda está fresca e circulando em nossa memória de trabalho, pois isso nos dará uma falsa sensação de aprendizagem. O espaçamento entre as sessões permite que nossas memórias sejam reconsolidadas, principalmente durante o sono, por isso é bom ao menos um dia entre uma sessão e outra.

Se for um conteúdo novo sugiro no máximo um dia de acordo com a sua complexidade. Normalmente faço a seguinte divisão: reservo a parte da manhã para iniciar minhas revisões (prática de recuperar da memória) e a noite para seguir estudando com o conteúdo novo. E na manhã seguinte, torno a realizar a prática de recuperar o que foi estudado na noite anterior.

À medida que o material for se tornando cada vez mais fácil de recordar, que é um indicativo extremamente positivo, está na hora de prolongar as sessões de prática desta disciplina. Intercalar duas ou mais disciplinas durante as sessões de prática também proporciona uma uma forma de espaçamento: Se hoje eu estudei matemática, amanhã estudarei psicologia, e no terceiro dia retomo ao material de matemática.

Misturar disciplinas permite a manifestação de um fenômeno da neurociência chamado Transferência. Que é a capacidade de transferir conhecimentos de uma área para outra, assim dizendo, processos que se assemelham entre disciplinas tornam-se mais fáceis de serem compreendidos.

É totalmente natural esquecer alguns pontos que foram estudados, e nestes casos, consulte seus materiais: livros, vídeos, anotações… Ou qualquer outra fonte de informação que você esteja utilizando. A regra primordial é: antes de consultar, tentar recordar. Pois é o esforço em recordar que fortalece a memória e gera aprendizagem.

“Alguém fez a seguinte comparação: a pergunta e a resposta são dois pontos em uma floresta. Cada vez que tentamos responder, é como se caminhássemos de um ponto para outo. Como resultado, a trilha começa a ficar marcada. Ao caminhar novamente, o trajeto é mais fácil. Quanto mais vezes coçamos a cabeça para pensar no que seria a reposta, mais fácil fica o trajeto. A trilha muito frequentada vai ficando gravada na memória. “
— Claudio de Moura Castro, em: “Você sabe estudar?”

Divida suas horas de estudos em sessões de práticas espaçadas, intercale-as entre novos conteúdos e disciplinas. Que a prática de recuperar informação da memória seja sua principal estratégia de aprendizagem. Leve essas regras a sério e o domínio sobre seus estudos será seu.

Referências:

  • O estudo sobre os jogadores de beisebol foi relatado em HALL, K. G., DOMINGUES, D. A.; CAVOS, R. Contextual interference effects with skilled baseball players. Perceptual and Motor Skills, v.78, n. 3, part.1, p. 835–841, 1994.
  • Fixe o Conhecimento — “A Ciência da Aprendizagem bem-sucedida — Capítulo: A aprendizagem é mal compreendida”. página 1.
  • Fixe o Conhecimento — “A Ciência da Aprendizagem bem-sucedida —Capítulo: Para aprender, Recupere as informações”. página 19.
  • Fixe o Conhecimento — “A Ciência da Aprendizagem bem-sucedida — Capítulo: Fixe o Conhecimento”. Prática de Recuperar informações. página 170.
  • Você sabe estudar? —” Capítulo: Técnicas para entender a matéria.” página 113.
  • Você sabe estudar? — ” Capítulo: Técnicas para entender a matéria. — Paradoxos do ensino passivo e ativo” página 121.
  • Neurociência e Educação — Como o cérebro Aprende. “Capítulo: Arquivos inconstantes”. Página 66.
Fontes: Medium

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